Acho que pela primeira vez, desde que saí de Portugal, nesta viagem do Santo António ao Midsummer, encontrei trânsito na estrada.
Mas mesmo muito trânsito, suficiente até para fazer parar os carros e os muitos camiões que circulavam na auto-estrada. Também é preciso dizer que houve um conjunto de factores: obras e acidentes que ajudaram a que isto acontecesse.
Mas a verdade é que penso que este troço entre a Bélgica, a Holanda e a entrada na Alemanha, apesar de ter sido um dos mais curtos (cerca de 300 km) que fiz até agora, foi também o mais complicado.
Tinha planeado chegar cedo a Munster, mas assim não aconteceu. Quando finalmente cheguei, tinha já uma família impaciente à minha espera. Por aqui o jantar é cedo, por volta das 6.30 / 7h. Ou melhor, a chamada refeição da noite.
Mas as pessoas não jantam na Alemanha?, Perguntei novamente, bastante surpreendida com a revelação.
“Não jantam como nós”, responderam-me. E este “nós” aqui quer dizer portugueses. Mário, Idalette, Andreia (12) e Laura (9) são emigrantes na Alemanha em Munster há mais de 15 anos, mas existem hábitos que ainda não conseguiram assimilar.
“O jantar deles é pão com qualquer coisa: queijo ou fiambre… Apesar de o pão ser muito escuro e completo, nem para as crianças há uma sopa ou qualquer outro prato quente” continua Idalette, sabendo que me está a dar uma informação pouco partilhada com os “latinos”. “Mas, para nós, cá em casa faço sempre jantar”, assegura rapidamente, como que para me deixar mais tranquila.
E de facto, no fim desta explicação senti-me uma sortuda, pois o jantar que acabei por partilhar na casa desta família foi delicioso. Apesar de em regra então os alemães não comerem prato quente à noite, o que jantámos foi talvez o prato mais típico e também o mais internacionalmente associado a este país: salsichas, claro!
Mas estas salsichas, de nome Rostbrafwurst, de cor muito clara antes de fritas, eram consistentes e com um sabor bem mais completo e saboroso do que as que normalmente conhecemos em Portugal. A acompanhar tinha batatas e água com gás ou sumo de maça.
Pois, também fiquei a saber que a água que se bebe com regularidade e às refeições, é água com gás (apesar de esta não ser tão gaseificada como as portuguesas).
Para sobremesa, houve Rhabarber Kuchen, uma tarde com uma mistura de sabores amargo e doce – um pouco estranha e intensa, diria eu!
Enquanto eu explicava o trajecto e objectivos da minha viagem aos adultos, as crianças foram descobrindo o puzzle que eu tinha guardado e trazido para elas desde Portugal.
Só desviaram novamente a atenção quando eu referi que ía passar de barco da Alemanha para a Suécia. “E o carro?”, perguntaram. O carro também vai, expliquei.
Mas há outras coisas a que esta família já se habituou muito bem e não se imagina a fazer de outra forma. E quando vão de férias, por exemplo para Portugal, sentem falta.
Refiro-me às bicicletas que usam com muita naturalidade e desde muito cedo. A polícia até vai à escola no princípio do ano verificar se as bicicletas das crianças estão em condições de circular, pois a partir do 3º ou 4º ano já todos vão para a escola assim sozinhos.
Só quando há muita neve é que não, porque escorrega, mas os graus negativos não parecem assustar ninguém!
Não é preciso carta mas há multas para quem não respeita os sinais ou não tem luz, por exemplo. E até há parques de estacionamento na cidade para guardar e estacionar as imensas bicicletas.
Às segundas-feiras é dia de Escola Portuguesa por isso as crianças chegam mais tarde a casa (perto das 4h da tarde). Nos outros dias, as aulas por aqui acabam no máximo às 2h da tarde e começam às 7.50h. Uma grande diferença, em relação a Portugal.
Outras curiosidades que fiquei também a saber: as turmas fazem visitas de estudo com os professores durante uma semana, desde o 3º ano e a altura das férias de Verão muda todos os anos e difere de região para região da Alemanha. Para não irem todos de férias ao mesmo tempo (o país é muito grande). Isto é que é organização! 🙂
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