As diferenças entre Portugal e Brasil podem estar camufladas onde menos se espera.
Apesar de, entre ambos, existirem os mesmos traços culturais, a mesma língua (além do jeito especial de falar dos brasileiros e das expressões brasileiras que têm de conhecer) nem tudo é imediatamente perceptível e uma visita àquele país de cores/sons/sabores tropicais pode mesmo revelar algumas surpresas.
Como normalmente faço antes de iniciar qualquer viagem, pesquisei bastante sobre o Brasil antes de lá ir pela primeira vez em 2012.
Ía ser uma viagem de três semanas, bastante alargada – desde São Paulo a Recife – com o objectivo de visitar um pouquinho de tudo:
- Grandes cidades (Rio de Janeiro, Brasília)
- Parques naturais (Cataratas do Iguaçu, Chapada Diamantina)
- Rotas culturais (cacau e ouro)
- Lindas praias, dignas de capa de revista (Itacaré, Porto de Galinhas)
Foi tudo organizado por mim, por isso tive a difícil missão de conseguir coordenar os melhores preços e horários de voos domésticos com os de carros de aluguer, para assim fazermos os roteiros pretendidos.
Além de querer diversificar ao máximo as experiências, alternando diferentes tipos de hotel (desde 5 estrelas a pequenos alojamentos familiares em frente à praia), colocando-nos a visitar cidades numa determinada data (para conciliar com eventos festivos a que queria assistir) e ainda, não perder as várias visitas de cada lugar…
Não foi tarefa fácil, devo confessar. Principalmente a parte do trabalho prévio de tentar conjugar todos os factores da melhor forma. Alterei por diversas vezes o trajecto e a escolha dos lugares a visitar. Inverti a ordem dos percursos. Acrescentei uns destinos. Prescindi de outros. Foram horas de muita pesquisa, leitura, pedido de conselhos a amigos.
Mas, no fim, apesar de todo o tempo despendido na preparação devo admitir que me deu bastante gozo olhar para a estrutura final e perceber depois já lá, em plena viagem, que as minhas escolhas resultaram todas muito bem.
E apenas horas depois de ter pisado solo brasileiro, confirmei aquilo que até já sabia (mas ingenuamente pensei pudesse ficar atenuado por esta ter sido a viagem com mais tempo de pesquisa que jamais tinha feito).
Confirmei então, que o conhecimento antecipado sobre um lugar (apesar de importante), não dá qualquer garantia de o ficar a conhecer bem.
Esta é então uma das lições mais importantes para qualquer viajante. Por muito que pesquisemos, por muito que nos recomendem, por muito que pensemos que vamos preparados, os destinos têm sempre a capacidade de nos surpreender.
Há coisas que não estão escritas nos guias, há coisas que são mesmo irrepetíveis, que só acontecem naquele dia ou com aquelas pessoas.
E depois há tudo aquilo que nos surpreende a nós, nos marca de uma forma profunda mas que inevitavelmente marcará de uma forma diferente qualquer outra pessoa, porque a verdade é que somos todos diferentes e com preferências pessoais muito específicas.
Há pois muita coisa que só aprendemos na própria viagem. E um passo importante para conseguir que isso aconteça, acho que é começar desde logo por se conseguir desconstruir a nossa realidade.
Deixar um pouco de lado a nossa própria bagagem cultural, para recebermos assim a nova informação com maior tolerância, com uma nova perspectiva e de preferência sem preconceitos ou juízos de valor.
Em relação ao Brasil, devo dizer que apesar de eu ter tanta informação acumulada, consegui surpreender-me por diversas vezes e perante as situações mais simples e banais.
Aqui ficam então as 4 diferenças entre Portugal e Brasil que mais me divertiram descobrir:
1. POUSADA
Já antes falei das diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil, mas há ainda outra possibilidade para os mal entendidos na comunicação: quando a palavra é a mesma, mas adquire um significado completamente diferente. É o caso de pousada, um bom exemplo das diferenças entre Portugal e Brasil.
Se em Portugal ficar alojado numa Pousada, significa estar num edifício de algum luxo e relevância histórica (castelo, palácio) onde a vertente arquitectónica e a relação com o meio envolvente são até significativos para a região e para o próprio país, no Brasil o conceito é muito diferente.
Em Portugal há 36 Pousadas (foram inicialmente criadas na década de 40) e os preços são proporcionais ao elevado estatuto e charme inerentes a cada local. Pertencem todas à rede de Pousadas de Portugal (gerida pelo Grupo Pestana).
Ora, no Brasil, a palavra pousada é utilizada para outro estilo de alojamento. Por isso, algumas vezes me aconselhavam “tens de ficar naquela pousadinha tão pé na praia…” e eu ficava um bocado baralhada!
Então é assim, ficar numa pousada no Brasil é ficar num tipo de alojamento pequeno (menos de 40 quartos, mas a grande maioria tem bem menos que isso), tudo com uma personalidade única e muito “bonitinha”.
Confortável mas nada de luxos, pequeno-almoço bastante razoável incluído, normalmente com gerência familiar e bastante informalidade a condizer. Em regra, estão situadas em locais turísticos, natureza ou praia.
Há milhares por todo o Brasil, a começar em preços bastante acessíveis mas que dependendo do local e das condições oferecidas podem ser até bem mais caras do que um grande hotel de referência. Não existem cadeias de pousadas, pertencem a particulares.
Durante a nossa rota brasileira em 2012, ficámos em algumas pousadas e só posso recomendar a experiência. Foi quase como estar em casa de amigos em vários lugares paradisíacos que visitámos.
2. PEIXE
Tenho de admitir que isto ainda é uma das coisas que mais confusão me faz. Eu gosto muito de peixe fresco. Gosto muito de me sentar numa esplanada em frente ao mar e saborear uma das inúmeras qualidades de peixe que a nossa costa portuguesa oferece.
Ora, indo eu para o Brasil, fiquei completamente entusiasmada com o pensamento (redutor, claro) de que iria aproveitar cada centímetro daquela costa imensa e abusar de comer peixe fresco a todas as refeições. Pois, enganei-me! Há mesmo grandes diferenças entre Portugal e Brasil …
É que mesmo nos restaurantes em frente ao mar, há muito pouca escolha de pratos de peixe. E o que há não tem um sabor familiar. Raramente é grelhado, escalado, inteiro…é sempre mais elaborado que isso. A moqueca de peixe é disso um bom exemplo.
Acabei então por comer muito pouco peixe por terras brasileiras, mas em Itacaré na Bahia, deliciei-me com uns lombinhos (não me lembro de quê) que vinham enrolados em casca de banana. Deliciosos!
3. CAFÉ
Aqui está outra das diferenças entre Portugal e Brasil que também me surpreendeu bastante. O Brasil é muitas vezes apontado como o maior produtor de café do mundo mas fiquei com a sensação de que os brasileiros não têm o hábito de o beber, pelo menos socialmente como em Portugal. Além de que não serve para finalizar a refeição (como os portugueses o fazem).
Bebem essencialmente café de manhã ao pequeno-almoço… depois, durante o dia, com o calor já não apetece ingerir bebidas quentes.
Durante o dia é muito mais frequente beberem uma cerveja “geladinha” – ou chopp – naqueles estabelecimentos que quase ligam fisicamente a rua ao restaurante (outra característica do consumo brasileiro) do que uma chávena de café (e muito menos um expresso).
Convém também referir que mesmo quando há café disponível nas ementas, não é da melhor qualidade. Dizem que os melhores grãos são para exportar e eu acreditei quando por lá provei café não muito “gostoso”.
4. PRAIA
Outro tema a que não é possível fugir. Fala-se do Brasil e fala-se em praia.
Mas ir à praia lá, toma outras proporções – completamente distintas das que estamos habitados. É talvez uma das diferenças entre Portugal e Brasil mais visíveis.
Em primeiro lugar no horário. No Brasil, a praia é essencialmente para ser usufruída de manhã. O truque é chegar logo cedo porque depois das 16/17h já muitas vezes o sol está escondido (depende da própria localização da praia) e por essa hora as pessoas começam a dispersar. Ou seja, não assisti àqueles fins de tarde que se prolongam pela noite dentro, como é tão vulgar em Portugal.
Depois a forma como se está e vive a praia também é diferente. Não vi muitas pessoas estendidas na toalha (que lá também quase não se usa, em vez disso há a canga – pano fino que serve ainda como saída de praia).
Quase todas as praias têm cadeiras, mesas e chapéus, onde se pode comer, com serviço de mesas e tudo, o que acaba por tornar a estadia bastante confortável (apesar de mais dispendiosa).
Também não posso esquecer todo o constante e insistente movimento de vendedores, que até dá para brincar e escolher o vendedor mais original das praias do Brasil.
Apregoam desde bebidas, roupa, água de coco, milho e queijo na brasa por aqueles imensos areais. O mais engraçado são os carrinhos adaptados, um mais criativo do que o outro!
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2 Comentários
Muito interessante o conteúdo
Obrigada Claúdia!