Depois de vários dias em Salvador, de algumas visitas a amigos, de muitos banhos de mar e outros tantos mergulhos na cultura e gastronomia local, tinha chegado a hora de deixarmos a cidade para trás e rumarmos a uma ilha que adquiriu o estatuto de paradisíaca e de que já tanto tinha ouvido falar – Morro de São Paulo.
Com o aproximar da hora de partida, a sala de onde se espera pelo catamarã, bem perto do famoso Mercado Modelo, começou a ser pequena para tantos passageiros. Havia famílias, casais, pessoas de todas as idades e nacionalidades. Ao nosso lado estava uma família francesa com 3 filhos que começou a distribuir bolachas pela prole. E a dica fica desde já aqui dada: é uma boa ideia reconfortar a barriguinha e despejar a bexiga antes de embarcar pois as possibilidades de o fazer durante a viagem são muito reduzidas.
Reparei também que o filho do meio da tal família, que teria talvez uns 8 ou 9 anos de idade, estava a desenhar os barcos que compunham o enorme painel de azulejos azuis que ocupava grande parte de uma das paredes e que representava a área circundante da Baía de Todos-os-Santos.
E dei por mim a reflectir precisamente sobre a cidade de Salvador. A verdade é que não me conseguia decidir, não sabia formar uma opinião sobre a vivência dos últimos dias. Li algures que é preciso tempo para aprender a gostar de Salvador, que não é na primeira visita que se compreende a cidade porque é disso mesmo que se trata – conseguir compreender esta gigante, ruidosa, desgastada e histórica cidade, que segura o título de primeira capital do Brasil.
Mas estes meus pensamentos foram interrompidos. Quase todos os que estavam ali presentes começaram de repente a levantar-se, a formar fila e a dar passagem aos passageiros que entretanto chegavam de um qualquer barco.
O gradeamento que dava acesso ao porto estava agora aberto e em breve, foi então a nossa vez de percorrer alguns metros numa ponte de madeira que nos levaria finalmente ao pequeno catamarã. Para entrar, primeiro as malas, depois as pessoas. E enquanto um funcionário se encarregava de amontoar todas as bagagens nas 2 ou 3 primeiras filas do barco, as pessoas íam-se acomodando nas filas corridas de cadeiras disponíveis.
Eu quis aproveitar ao máximo as vistas e optei por ficar no banco corrido que havia na parte exterior. Mesmo depois da partida, quando já só havia ondas e vento para apreciar, deixei-me ficar. E que boa opção se revelou! Rapidamente, os meus filhos também me fizeram companhia neste lugar que se veio a revelar menos propício a más disposições.
Com o passar do tempo, muitas foram as pessoas que começaram a sair de lá de dentro com um ar muito pouco divertido….ouvi depois (já em terra) que é um estado muito frequente entre os passageiros.
Devo dizer que a viagem foi bastante emocionante ao início, mas depressa os repetidos balanços perderam a piada inicial. Duas horas é realmente muito tempo para ocupar com uma paisagem tão monótona mas principalmente tão instável como daquela se revelou. Eu perdi a conta às vezes que os miúdos perguntaram “ainda falta muito?” E eu própria a partir de determinada altura, comecei a fazer a contagem decrescente aos minutos.
E até me lembro da tomada de consciência do Francisco: “O pior é pensar que temos de voltar, não é mãe?”, mas que na altura até serviu de motivo para recuperar um bocadinho o ânimo. Como iríamos fazer alguns passeios pelo litoral da Bahia, o regresso a terra já estava planeado de outra forma por isso não teríamos de regressar assim. Apesar de saber que o estado do mar de cada dia faz a viagem ser mais ou menos confortável, reconsidero agora se esta será a melhor forma de viajar com a família, principalmente com crianças muito pequenas.
Este meio de transporte é uma das 3 alternativas que existem para chegar ao Morro de São Paulo, que por ser uma ilha dificulta o seu acesso. As outras são: via aérea através de uns pequenos aviões que saiem de Salvador (demora bem menos de uma hora mas o preço é bastante elevado) e a via semi-terrestre (demora quase quatro horas e engloba ferry, autocarro e lancha).
Perante as alternativas, as duas horas de catamarã pareceram-nos a opção mais equilibrada. Mas hoje acho que entendo porque é que sempre ouvi falar tanto sobre as praias e o paraíso que era o Morro mas nunca ninguém falava muito sobre a viagem para lá chegar!
Confesso que precisei de algum tempo para conseguir relativizar o desconforto da viagem…mas é verdade que a paisagem fantástica, digna de cartão-postal, à chegada ajudou à recuperação. E não sei se ainda era efeito dos balanços do barco mas a mim só me parecia que tinha acabado de aterrar num filme. Para começar, os únicos táxis disponíveis eram carrinhos de mão! Mas sobre isso contarei mais tarde.
P.S. – As malas perdidas apareceram um dia depois de chegarmos a Salvador 🙂
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