“Parece neve!” disse o Francisco ao mexer naqueles grãos brancos e secos, amontoados em forma de pirâmide nas Salinas de Rio Maior.
E é verdade, aqueles pequenos flocos pareciam mesmo neve! Eram macios (sim, mais macios do que eu esperaria para grãos de sal) e ali estavam em monte, em cima de uma tábua de madeira.
No dia em que lá fomos não vimos ninguém a trabalhar nos tanques. Mas vimos muitos montes destes, assim tipo pirâmide, espalhados e intervalados por grandes “piscinas” umas mais cheias com água do que outras.
Enquanto não chove, é assim que se vai fazendo a evaporação (que demora entre três a seis dias) e a consequente recolha do sal. Porque quando o clima ficar mais húmido ou a chuva começar a cair, a água salgada mistura-se com a água doce e aí acaba-se de imediato o trabalho da extracção. E só se inicia novamente quando a Primavera chegar e o temperatura assim o permitir.
É pois um trabalho sazonal, apesar das salinas estarem abertas e serem visitáveis durante todo o ano. Sendo que durante o Verão e os fins-de-semana o fluxo de curiosos é bem maior, claro.
Mas quem quiser aproveitar para ver o pleno funcionamento das salinas é mesmo a época mais seca que deve escolher (Maio a Outubro).
A interrogação mais comum quando se chega às Salinas de Rio Maior é esta: mas se não há aqui mar (está a cerca de 30 km de distância) como é que há aqui água salgada?
Pois parece que o fenómeno é justificado pela Serra dos Candeeiros, que dada a sua natureza calcária tem muitas falhas na rocha e assim as águas da chuva entrenham-se e formam cursos de água subterrâneos.
Sendo que um desses cursos atravessa uma grande jazida de sal-gema que alimenta o poço destas Salinas de Rio Maior.
E a água que se extrai das Salinas de Rio Maior é sete vezes mais salgada do que a água do mar!
Mais números: a produção anual deste conjunto ronda as 2.000 toneladas, sendo que um litro de água equivale a 220 gramas de sal.
Ora, as Salinas de Rio Maior são então as únicas salinas de interior em Portugal. Um bom pretexto para mostrar aos miúdos de onde surgem aqueles grãos que estão habituados a ver os pais utilizarem nos seus cozinhados.
O sal daqui retirado pode ser ou não moído (depende do seu destino), mas não leva qualquer tratamento químico – é um produto obtido apenas pelo resultado da acção do Sol e do trabalho manual do Salineiro, o que o torna algo mesmo natural e especial.
Actualmente este lugar é uma pequenina aldeia feita de ruas de pedra com casas de madeira e há quem lhe chame um museu vivo.
Os métodos de exploração pouco evoluíram desde 1177 (data do documento mais antigo) mas são mesmo estas características tão originais que destacam este de outros lugares semelhantes.
Fica bem à beira de uma pequena estrada e está rodeado de casinhas de madeira, que eram antigos armazéns de sal (agora a produção é guardada na cooperativa).
A madeira é resistente à corrosão do sal e até as fechaduras e as chaves são neste material, utilizando uma técnica muito própria.
Actualmente, aqui nas Salinas de Rio Maior, a grande parte destas casinhas está ocupada por pequenos restaurantes com petiscos e lojas que vendem sal, brinquedos tradicionais, peças de cerâmica, têxteis e até plantas.
E foi numa dessas casinhas de madeira que conhecemos o Senhor Joaquim, que faz presépios – na época natalícia há até um concurso de presépios de sal. Estes que nos mostrou eram de outro material, mas são verdadeiras obras de precisão e paciência.
Cheio de orgulho, disse-nos que realizar uma peça destas não tem preço. E apesar de até já lhe terem “oferecido um bom dinheiro” não conseguiu desfazer-se de uma das peças premiada num concurso em Aveiro.
Dono de um sorriso contagiante, o Senhor Joaquim até nos explicou que os queijinhos de sal são apenas sal (preparado para temperar) mas que deve o nome à sua forma de pequeno queijo redondo.
Nós não resistimos a trazer para casa um pacote de tempero já preparado: sal com segurelha, manjerona, manjericão, sálvia, alecrim e louro.
Foi maravilhoso o cheiro com que esta pequenina embalagem nos invadiu no caminho até ao carro e tenho a certeza que o próximo prato confeccionado com este sal das Salinas de Rio Maior terá um sabor ainda melhor. 🙂
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Salinas de Rio Maior
A 3 km de Rio Maior, Portugal
(há boa sinalização na estrada)
Aberto todo o ano
Entrada livre
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8 Comentários
muito interessante o presépio de sal… não conhecia… obrigado pela partilha…
Sim, na altura do Natal as salinas de Rio Maior enchem-se de criatividade!
Obrigada pela visita por aqui 🙂
Tão bom ver um post sobre a minha terra!!! 🙂
Obrigado por isso Joana!
e espero que tenha gostado e volte a Rio Maior
Olá Tânia,
Que boa visita! 🙂
Gostámos sim, voltaremos!
Gostei de visitar as salinas
Com certeza vou voltar afim de assistir á labuta
e ao movimento , pois hoje, 19 de Janeiro 2016
não havia vida.
Sim, Jorge, é sempre boa ideia visitar as salinas de Rio Maior 🙂
Só é de lamentar, que paramos para visitar e somos assaltados, como me aconteceu na passada segunda feira, lugar para não voltar.
Lamento muito saber disso. Nunca é demais reforçar os cuidados e os alertas para que outros visitantes não tenham a mesma infelicidade. Obrigada pela partilha.