No Museu do Oriente é possível visitar a cultura oriental sem sair de Lisboa. Não substitui uma viagem real ao outro lado do mundo, mas pode perfeitamente funcionar como uma fonte de inspiração para alguém que vai partir em breve para essas paragens longínquas, ou apenas como uma visita curiosa para todos aqueles que gostam de saber um pouco mais sobre as diferentes culturas mundiais.
A verdade é que o Museu do Oriente está perto da Ponte 25 de Abril em Lisboa, em frente ao Rio Tejo, como se a lembrar a também ponte de ligação entre as duas civilizações e que foi por mar que os portugueses levaram a nossa cultura Ocidental a um mundo tão novo e desconhecido para a época.
Imaginem o que terá acontecido quando lá chegámos: nós devemos ter ficado completamente espantados com o que encontrámos, mas para eles a surpresa terá sido exactamente igual! Se para nós, eles é que eram os exóticos e estranhos, para eles a reacção terá sido a mesma em relação à nossa espécie de olhos grandes, roupas estranhas e comportamentos efusivos.
O que ninguém duvida é que a influência portuguesa no Oriente foi enorme, como primeiros europeus a lá chegar e ao construir rotas comerciais contínuas entre o Ocidente e o Oriente fizemos realmente a diferença.
Eu fiquei deslumbrada com o que encontrei no Museu do Oriente quando o visitei pela primeira vez. Depois disso já voltámos várias vezes (para assistir a workshops ou exposições – o serviço educativo, a agenda de espectáculos e conferências é bastante completa).
Como o Francisco tem um fascínio inexplicável pelo Japão, o Museu do Oriente é um lugar onde gostamos sempre de ir e recomendamos para uma visita em família. E também por isso estou agora a inclui-lo no meu projecto dos 40 anos, 40 lugares.
Para esta visita especial, convidei o Agostinho que é fotógrafo. Desta vez não veio acompanhado pela filha de um ano de idade mas fez-se acompanhar por muitas histórias e curiosidades sobre o país que sempre fez parte do seu imaginário, precisamente o Japão.
Tudo começou com os filmes dos Samurais que via na televisão quando era jovem. Depois, já mais crescido, quis aprofundar conhecimentos e entender melhor a cultura milenar dos japoneses.
Diz que o Japão esteve na sua lista mental dos países a visitar, até ao ano de 2005 e ao dia em que viu na montra de uma agência na China o anúncio a um voo promocional. Era só deste incentivo que precisava para iniciar o reconhecimento ao vivo! Só voltaria a solo japonês em 2014 mas confirmou as evidências: o Japão ocupa agora lugar no pódio dos seus países preferidos (tanto, que até tem nova viagem marcada e aberta a outros viajantes que o queiram acompanhar para este destino em Abril ou Outubro).
Contou-me histórias que reflectem o estilo de vida que se vive por lá e que lhe vão ficar na memória. Como daquela vez em que precisou de perguntar uma direcção na rua e como o inglês não era (não o é em regra) uma língua em comum, a pessoa a quem perguntou deu-se ao trabalho de entrar numa loja, pedir para abrir o google maps no computador, imprimir um mapa e riscar o percurso que o Agostinho tinha de percorrer.
É então um país onde a modernidade vive em harmonia com tradições milenares. O respeito e a honra são levados muito a sério. As regras são cumpridas. Tudo está impecavelmente cuidado e limpo, apesar de existirem muito poucos caixotes de lixo na rua. Onde é possível dormir em hotéis capsula por 15 euros, comer numa tasca típica (com jarro de chá incluído) por 8 euros mas andar de transportes públicos pode ser bastante caro.
E onde é também impossível negar a herança portuguesa. Os portugueses, ao contrário de outros povos europeus, são conhecidos por se conseguirem entrosar bastante bem com as demais culturas e por isso há tradições que se fundem entre os dois países.
Pode ser bastante divertido ver as peças expostas no Museu do Oriente e tentar adivinhar tal influência. Lá está o único exemplar do mundo de um capacete de guerra do século XVI utilizado no exército japonês, com a mesma composição dos coletes anti-bala, e inspirado nas rendas e tecidos que os portugueses usavam na época – os miúdos podem até achar que se parece com o chapéu dos filmes do Harry Potter mas na verdade é a peça mais cara exposta neste Museu do Oriente!
Outra peça bastante interessante é um biombo de Arte Namban, que é como um pedaço de História congelado no tempo pois representa a chegada dos primeiros portugueses ao Japão. Está cheio de detalhes que provam como eles nos viam: altos, de bocas e olhos grandes, com acessórios extravagantes, peles brancas e comportamentos agressivos (como apontar com o dedo, por exemplo).
E por falar em herança cultural, sabiam que há actualmente mais de 30.000 palavras japonesas que não enganam a sua origem portuguesa? Biombo, é uma delas precisamente! Mas também: janela, porta, tutor, capa, tabaco, pão, copo, sábado que têm o mesmo significado e escrevem-se de forma muito semelhante nos dois países. Foram também os portugueses que introduziram no Japão as galinhas e os fritos – hoje em dia vamos comer tempura (legumes e peixe fritos) aos restaurantes japoneses e nem nos lembramos que eram os portugueses que comiam assim em tempo de jejum. São as ironias da História!
Lá no Museu do Oriente gostámos também bastante de ver as caixinhas Inro, embalagens herméticas para transportar medicamentos com dois cordões laterais (já que a roupa japonesa não tinha bolsos) feitas de marfim, osso, esmalte ou porcelana, envoltas em camadas de laca e depois decoradas.
E se desta vez só nos concentrámos nas peças japonesas, fiquem a saber que existem lá muitas mais peças e países para conhecer. Até sombras chinesas podem experimentar!
O próprio edifício também é interessante, alberga a Fundação Oriente e foi armazém de bacalhau. É o Edifício Pedro Álvares Cabral, construção portuária do início dos anos 40, da autoria do arquitecto João Simões Antunes e encontra-se classificado como Património Municipal. Depois das obras, foi inaugurado em 2008 com várias salas de exposições permanentes e temporárias.
O Museu do Oriente tem ainda uma loja, uma cafetaria e um restaurante.
Até 21 de Fevereiro existem várias iniciativas em comemoração do Ano Novo Chinês (podem pedir desejos e participar no preenchimento com autocolantes, de um desenho do macaco – eu pedi o meu!).
Até meados de Março, há uma instalação de Izumi Ueda Yuu – No Borders – uma exposição de fotografia – Portugal visto pelos chineses – e uma exposição sobre falcões – A Arte da Falcoaria, de Oriente a Ocidente.
E nós sabemos que vamos voltar em breve pois não conseguimos fazer a reserva para o brunch de fim-de-semana no restaurante panorâmico no último piso e queremos muito lá ir provar esse grande pequeno-almoço que serve de almoço! Deve valer a pena, a vista e a refeição, pois parece que é preciso fazer a marcação com bastante antecedência (está sempre esgotado).
Quem é que conhece o Museu do Oriente e recomenda também uma visita?
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Museu do Oriente
Avenida de Brasília, Doca de Alcântara – Lisboa, Portugal
Entrada no Museu:
- Adulto – 6 euros
- 6/12 anos – 2 euros
- 0/5 anos – gratuito
- Mais de 65 anos – 3,50 euros
- Estudantes – 2,5 euros
- Família (2 adultos + 3 jovens) – 14 euros
Existe bilhete conjunto para almoço e visita.
Aos domingos, às 16h há visita guiada por mais 1 euro.
Às sextas-feiras a entrada é gratuita das 18h às 22h.
Encerra às segundas-feiras.
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Este é o lugar #3 do Projecto 40 anos, 40 lugares
Continuem a acompanhar este meu desafio de visitar 40 lugares especiais durante o ano de 2016. E espreitem o que já visitei antes:
#0 – O Baleal é a minha praia – Peniche
#1 – A Gulbenkian em Lisboa está cheia de curiosidades – Lisboa
#2 – O charme e as histórias do Parque das Caldas da Rainha – Caldas da Rainha
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3 Comentários
Olá Joana, parabéns pelo site! Sou brasileiro e dou aula de História do Japão no Brasil. Como visitaremos Portugal, estava à procura de um lugar onde pudesse ver as influências culturais do contato entre Portugal e o Japão, que começou no início do Século 16, e então deparei com o seu site. Obrigado! Gostaria de manter contato com vocês. Um abraço.
Olá Francisco, obrigada pela visita. Espero que gostem do Museu do Oriente, é realmente fantástico. E pode contactar sempre que quiser.
Pretendemos conhecer o Museu do Oriente.