Há uns dias perguntei aos meus leitores quais eram as suas maiores dúvidas sobre viajar em família. Prometi que responderia com os argumentos que a experiência já me ensinou ao viajar com os meus dois filhos há mais de quinze anos.
Optei então por organizar as inquietações que me chegaram dos pais por temas e respondi da melhor forma que consegui. Mas como sabem, tudo o que publico neste blog reflecte a minha experiência, escolhas ou preferências pessoais e é preciso não esquecer que não há fórmulas mágicas, respostas certas ou erradas nem sequer famílias perfeitas.
O que funciona comigo pode até nem ser a melhor solução para qualquer outra família, por isso espero apenas que encontrem nas minhas palavras algum do consolo e do carinho que impus a esta partilha.
Aqui ficam as vossas dúvidas sobre viajar em família. E as minhas respostas à pergunta que vos coloquei “A minha dúvida é que…“:
1. CLIMA
“…chova e tenhamos de ficar no quarto de hotel.”
Sim, se há coisa que não controlamos são as condições meteorológicas. E é por isso que devemos ter sempre um plano B preparado. Eu normalmente faço uma listagem das actividades para fazer ao ar livre e daquelas que se praticam no interior (visitas a museus, lojas…). Em época quente, utilizo as do ar livre na parte da manhã e tarde, enquanto as visitas para dentro de casa, guardo para a hora de almoço (durante o Verão) e precisamente para me salvarem dos dias em que não é possível estar na rua por causa do frio, chuva ou até escuridão.
O Aquário de Barcelona, foi um desses exemplos, já que nem sequer estava na minha lista de visitas prioritárias na cidade mas acabou por ser bastante útil para uma situação muito em concreto. E já agora, recomendo também andarem sempre com papel, canetas e um pequeno jogo para o caso de ficarem presos em qualquer sítio do qual não conseguem mesmo sair por algumas horas, como pode ser o caso de um aeroporto quando os voos se atrasam. Inspirem-se ainda nos jogos de viagem, que gostamos de usar porque não precisam de suportes técnicos apenas de muita criatividade.
2. PROGRAMAS
“…os miúdos se aborreçam com alguns programas ou que façamos apenas coisas que eles gostem.”
Pois, é bem possível que isso aconteça (e aviso já que a adolescência é o ponto alto da contestação)! Mas há famílias que conseguem adoptar estratégias para minimizar essa possibilidade. Eu também comecei a usar alguns truques e resultou. É assim: antes mesmo de saírem de casa, durante a preparação da viagem, envolvam os miúdos, expliquem onde vão, o que irão encontrar por lá, contem histórias que conheçam do sítio, façam um enquadramento da visita e uma interligação com os interesses pessoais dos miúdos ou com alguma coisa que eles até já tenham aprendido na escola. E permitam também que eles façam algumas escolhas, dêem a sua opinião, para se sentirem logo parte da aventura e não ficarem apenas com a impressão de que tudo é imposto e “uma grande seca”!
Depois, já no destino, façam uma listagem dos lugares ou actividades a descobrir e façam uma espécie de escala, onde cada membro da família tem direito a escolher um ou dois programas por dia ou por viagem. Sendo que nem vale a pena tentar dizer mal das escolhas dos outros, porque a seguir irá ser a nossa vez! E até podem optar por fazer o esquema do “hoje escolhes tu e amanhã escolho eu”, arranjando assim um equilíbrio entre os interesses das diferentes gerações e um compromisso de respeito por aquilo que os pais e os filhos gostam ou querem fazer.
3. DOENÇAS
“…os pequenitos fiquem muito doentes.”
Já me aconteceu ter de ir ao hospital, comprar medicamentos e abrandar mesmo o ritmo da viagem por indisposições durante férias no estrangeiro. Mas lembrem-se, podemos ficar doentes em qualquer lugar e não apenas em viagem. Pensem assim, como é que resolveriam a situação em casa? Pois em viagem o procedimento será igual. E a não ser que estejam numa ilha deserta, em qualquer outra parte do mundo haverá sempre médicos, hospitais, farmácias para qualquer eventualidade. Claro que é importante ter as vacinas sempre em dia, respeitar as habituais normas de higiene e levar uma pequena farmácia para os cuidados essenciais, mas de resto acho que não vale a pena sofrer por antecipação.
4. COMIDA
“…agora ando na fase das sopas e frutas e costumamos ir para casas por isso posso fazer lá, mas e quando andamos a passear durante o dia?”
Uma das coisas que já aprendi é que o nosso instinto é um grande aliado que temos sempre connosco. Outra, é que aprendemos rapidamente a viver com o que temos. E outra ainda é que nós e os miúdos temos uma capacidade de adaptação bem maior do que aquilo que alguma vez poderíamos imaginar.
Ir para uma casa em detrimento dos hotéis para se ter acesso a uma cozinha parece-me uma óptima ideia. Eu também o fiz. E fazia assim: preparava as refeições de manhã bem cedo, colocava-as num termo e levava-as para os nossos passeios. Quando as crianças são mais velhas, já podem comer da nossa comida nos restaurantes. Mas eu fui e continuo a ir muitas vezes aos supermercados, já que iogurtes, bolachas, pão, fruta…há sempre em qualquer lado do mundo e com isso os miúdos normalmente ficam satisfeitos.
E não se esqueçam, em regra, a viagem dura um período de tempo bastante curto por isso mesmo que as crianças não se alimentem tão bem quanto gostaríamos enquanto lá estamos, deixo-vos o conselho, não se preocupem demasiado, acho que não serão piores pais por isso. A sério, a oportunidade que estão a dar aos vossos filhos por estarem a conhecer novas culturas e pessoas é mais importante do que comer menos bem durante uma semana. Quando chegarem em casa, logo têm tempo de regressar às comidinhas boas de sempre!
5. CIDADES
“…visitar cidades com uma criança de seis anos…vale a pena levá-la?…há entretenimento para estas idades?… a sua ida condiciona demasiado a viagem?”
Viajar com crianças requer um ritmo completamente diferente daquele que temos quando estamos só entre adultos. É a regra número um a não esquecer. E mesmo que planear a viagem seja importante, acho que não deve ser em demasia porque já sabemos que vão aparecer imprevistos. Os miúdos vão querer parar nos 50 parques infantis que encontramos pelo caminho, vão sujar-se a comer o gelado, vão adormecer quando não dá mesmo jeito nenhum…Enfim, conhecem o enredo certo? Por isso é que é tão importante ter sempre em mente que não se deve tentar encaixar demasiadas visitas num dia, porque depois não vamos conseguir cumprir com as expectativas.
Mas sim, eu diria que visitar cidades com crianças vale a pena, além de até poder ser bastante divertido. Eu sempre viajei para grandes cidades europeias com os meus dois rapazes enquanto eles eram bem pequenos e nunca considerei que eles atrapalharam os meus planos. Até porque cada vez mais os museus, parques, hotéis e restaurantes estão preparados para receber as famílias. E os miúdos vão encontrar sempre motivos de interesse, contactar com coisas que nunca viram e até conseguir fazer amizades com outras crianças nas mesmas situações. E é bom ter em conta que actualmente já há muitas cidades que têm uma agenda cultural específica para as crianças, portanto entretenimento não deve faltar.
6. DINHEIRO
“…o meu problema é a falta de dinheiro.”
Não é preciso ser rico para viajar. A constatação não é só minha, mas subscrevo-a plenamente. Porque acredito que muitas das opções que tomamos na vida se regem pela lógica das prioridades. Sim, o orçamento não é elástico, todos sabemos isso, mas também todos sabemos que se gastarmos determinada quantia em determinada compra depois já não existe para gastar noutras a seguir. É sempre uma questão de escolhas. De valorizar mais isto ou aquilo.
Porque também convém esclarecer que, para mim, viajar não é só ir a lugares exóticos ou longíquos. Ir a um parque ou a uma praia, bem perto de casa, pode perfeitamente ser uma aventura inesquecível e uma autêntica descoberta se existir disponibilidade para isso. Porque continuo a acreditar que não é o lugar que faz o viajante mas a vontade com que lá se está, o interesse com que se observa, escuta ou sente o que se passa em redor.
Além disso, acredito que nas viagens (como em tantas outras coisas na vida) não é a quantidade, mas a intensidade com que se vivem as coisas que fazem delas símbolos mais ou menos marcantes do nosso percurso. Posso dizer-vos que há momentos muitos especiais que passei com os meus filhos, e que guardo com o maior carinho e gratidão, enquanto estávamos a apenas 20 quilómetros de distância de casa.
Espreitem o projecto que iniciei em 2016, com o nome de Desafio 40 anos, 40 lugares – lá encontrarão muitos motivos e sugestões de passeios (alguns grátis e bem perto de casa) para fazer em família.
Para terminar, quero agradecer a todos os que me enviaram as dúvidas sobre viajar em família, os que me visitam aqui no blog ou nas redes sociais – facebook + instagram – e me dão sempre alento para eu continuar a partilhar a minha experiência.
E, por favor, não se esqueçam nunca – as mães arranjam SEMPRE uma solução!
Não deixem de sair de casa com os miúdos… NA DÚVIDA, VÃO!
Normalmente é tudo muito mais fácil do que parece!
As minhas respostas serviram de inspiração para vos pôr na rua com a criançada? 🙂
E digam-me, há mais alguma dúvida em que eu possa ajudar?
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