Em 2012, a Pikitim e família andaram um ano a viajar pelo mundo. As histórias dessa extraordinária viagem estão no Diário da Pikitim.
E uma dessas memórias é precisamente o dia que passaram em Bali (Indonésia) e que foram confrontados com as ruas e praias desertas, os mercados fechados, as patrulhas de bairro.
A minha convidada de hoje é a Luisa Pinto, a mãe da Pikitim e autora do texto e imagens que a seguir nos descrevem o que é o Dia do Silêncio.
FESTA: Niepy Day ou Dia do Silêncio
DATA de 2014: 31 de Março (variável)
LOCAL: Bali – Indonésia
Acontece todos os anos e é o dia mais importante em toda a ilha de Bali. Ao contrário da maioria das ilhas que compõem o vastíssimo arquipélago indonésio, maioritariamente muçulmano, em Bali a população e o governo regem-se pela doutrina hindu. Mas um hinduísmo diferente do que nasceu na Índia, mas igualmente espiritual.
No calendário balinês, o primeiro dia do ano é o chamado Niepy Day, que, traduzido, quer dizer dia do silêncio. Nesse dia toda a população, miúdos e graúdos, oficiais e oficiosos, religiosos ou nem por isso, são obrigados a cumprir uma espécie de recolher obrigatório. Não se pode ver ninguém na estrada. Só os hospitais estão a cumprir serviços mínimos – mas o mais mínimos possível.
Durante 24 horas não se vê vivalma na rua. É o dia do silêncio, mesmo. Se algum turista se aventurar a ir espreitar as areias de uma praia, ou a passear-se na rua, tentar ir comprar alguma coisa a um mercado pode ter problemas. Em primeiro lugar, vai estranhar não encontrar ninguém – e não vale a pena procurar mercados; eles estarão fechados. Em segundo, algumas patrulhas de bairro (espécie de clã a que pertencem os patriarcas mais respeitados de cada família) vai com certeza perguntar-lhe o que anda ali a fazer, com ar pouco amistoso, e perguntar-lhe como teve a ousadia de perturbar o silêncio da ilha e desrespeitar uma das suas mais sagradas crenças e tradições.
Ouvi várias explicações para este Dia do Silencio. A que faz mais sentido, no meio de todo o misticismo hindu, é aquele que refere que na noite anterior os espíritos maus foram de tal forma provocados e invocados, que o melhor é fingir que está tudo “adormecido”, que naquela ilha não há vivalma, e que os espíritos maus podem seguir o seu caminho até “à ilha seguinte”.
O porque é que os espíritos foram “provocados”? Porque, lá está, tal como em outras religiões não há jejum ou abstinência que não seja antecedido por abundância – por isso o Carnaval chega antes da Páscoa. E antes do dia do silêncio, todos os espíritos maus são invocados, ganham corpo e forma nas criativas soluções engendradas pelos habitantes de cada bairro/clã. É o desfile dos ogoh-ogoh! Os “monstros” tomam conta das ruas, páram o trânsito. É uma festa impar.
É impossível resistir ao ambiente de festa, à explosão de ritmo e cor que toma conta das ruas. Mais difícil é aguentar o Niepy day. A Pikitim, pelo menos, não gostou nada do Dia do Silêncio.
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1 Comentário
Achei muito desrespeitoso o modo como vc se referiu à celebração. Se as crianças não gostaram, sinal que elas estão sendo conduzidas de forma a tampouco respeitar a cultura do outro. Não pode ficar em silêncio e sem sair de casa por 24hs? Fica na sua própria casa então…
Estou pesquisando sobre o assunto e cheguei aqui esperando um relato imparcial e baseado em fatos, em vivência, não em caprichos… triste.