Diário

Isto não é só um blog de viagens

13 Maio, 2015

Foi neste dia, como podia ter sido em qualquer outro. Mas foi a 13 de Maio de 2013 que escrevi o meu primeiro post e dei início a este projecto. Quando comecei não fazia ideia onde é que me estava a meter (assim um bocadinho como quando nos tornamos mães) mas sabia que precisava de o fazer.

E tal como também acontece com um filho, a partir desse dia tive algumas contrariedades mas tantas outras incontáveis alegrias. Conheci uma outra perspectiva, que não conhecia, imaginem! Talvez porque dou valor às pequenas coisas, gosto dos gestos mais simples, feitos com verdade e aproveito todos os motivos para celebrar.

E olhem que este mês de Maio é bem especial para mim (o texto que se segue é mais pessoal do que o habitual, mas aproveito a data comemorativa para o deixar sair). Os últimos dias têm tido este efeito em mim, e às vezes, oh pá…às vezes, parece mesmo que não há coincidências.

Este mês então, tem das melhores e das piores datas, aquelas que marcam etapas cruciais da minha existência. Foi em Maio que ganhei uma vida diferente daquilo que conhecia até então, quando eu e as minhas três irmãs ficámos orfãs de mãe. Foi em Maio que me readaptei a uma nova casa nos Estados Unidos, depois de ter mudado de família acolhedora no meu ano de au pair. Foi em Maio que iniciei o meu blog depois de anos a pensar e a hesitar como é que deveria partilhar as minhas histórias e esta minha gigante curiosidade (coisa que sonhava desde a adolescência) de conhecer o que ainda não conheço.

Pois. Isto foi muita coisa antes de ser um blog de viagens. Foi sonho, frustração mas também muita esperança. E agora que é real, e já completa dois anos de existência, sei que representa bem mais do que um projecto digital. Para mim é a concretização.

Apesar de eu sempre ter preferido a parte humana à tecnológica – e é por isso também que mais logo me vou encontrar com vários amigos, para lhes retribuir pessoalmente o que me têm ajudado a alcançar – foi neste meio digital que encontrei a forma de me completar e desafiar.

Tenho dois filhos adolescentes. Desafio não falta na minha vida como sabem! Mas estou meses seguidos sozinha com os rapazes desde que o pai iniciou um novo projecto no estrangeiro e depois de anos a ser super mãe e mulher, estou exausta. Vida própria, já nem sei o que é há demasiado tempo. Mas conhecem aquela frase que diz que o mais importante não é o que nos acontece mas o que conseguimos fazer com isso?

Foi assim que decidi que lá por não ter companhia adulta não iria deixar de sair com os miúdos, não iria mudar a minha essência. Agora, muitas das viagens que faço somos só os três ou até só dois. Porque a adolescência também tem disto, liberdade e opções de escolha. Eu até já arranjei alguns truques e estratégias para lidar com esta extraordinária e trabalhosa fase (não, não são os bebés que dão mais trabalho)…

E se antes escolhia os restaurante com parque infantil em frente ou os hotéis que tinham berço ou mini bar para guardar os iogurtes, agora só há uma condição a respeitar, ter wi-fi e dos bons de preferência! E sim, a pass da net é a primeira coisa que eles pedem quando chegam a algum lado e só depois, verificado o bom funcionamento da coisa, se lembram que estamos ali por outros motivos e começam a falar novamente.

Mas, se há coisa que os meus filhos sabem desde cedo, é que eu estou disponível, como sempre estive e sempre estarei, para lhes mostrar o mundo. Isso não muda. Posso já não conseguir ir por tanto tempo ou para tão longe, mas é o espírito da descoberta que importa estar constantemente presente, aquele que não nos deixa ficar quietos no mesmo lugar por muito tempo. Aquele que nos diz que ser é incomparavelmente mais saudável do que ter.

Conheci pessoas que me disseram que me devia tornar numa pessoa “normal” (seja lá o que isso queira dizer ou como se fosse possível até contrariar a natureza de alguém) e que devia deixar de andar sempre à procura de aprender e conhecer mais, que me devia acomodar. Não sei se já conheceram alguém assim…

Pois eu recebi demasiadas críticas e olhares de reprovação, senti-me muitas vezes incompreendida. Tive situações e pessoas a tentar convencer-me que não era possível. E até vos digo, houve alturas em que teria sido bem mais fácil dar-lhes ouvidos, porque viajar, tentar “negociar” ou simplesmente viver 24h sobre 24h sozinha durante tanto tempo com dois adolescentes pode tornar-se rapidamente numa tarefa inglória e pouco reconhecida. Mas eu senti que desistir não era o meu caminho. Não era nada disso que eu queria passar-lhes enquanto mãe.

Apesar de me sentir muitas vezes sem chão. Completamente perdida outras tantas. Confesso até que em algumas situações vasilei. E muito. Cheguei mesmo a precisar de validação exterior e independente das minhas capacidades e competências (pois, quase que deixei de acreditar nelas). Estive prestes a interromper este projecto, a colocar tudo em causa, mas é a velha história das tais pedras e do castelo que se vai conseguir depois construir com todas elas…

E se em várias circunstâncias, conheci o que nem sabia que podia existir, fui confrontada com verdades inabaláveis seguidas logo de imediato por um monte de incertezas absolutas, por desapontamentos constantes, surpresas que não pedi nem (sei-o perfeitamente) muito menos merecia, verdadeiras montanhas russas emocionais (e eu que nem gosto nada de montanhas russas!) sei que estes obstáculos me transformaram.

Ainda não me deram imunidade para as tremendas injustiças nem para as enormes desilusões que continuam a acontecer mas já me puseram alerta para os limites do respeito individual, para os desequilíbrios da balança entre o dar e o receber. E depois das minhas prioridades reorganizadas, até já consigo limitar o tempo de recuperação das mossas e dos julgamentos alheios.

Um dia, não sei qual, decidi seguir o meu instinto pois era ele que me dava força para avançar. Que me ensinava que não devia permitir que obstáculo nenhum fizesse essa escolha por mim. Apesar que de vez em quando ainda preciso de uns bons lembretes (daqueles que só confirmam o que já sei tão bem) mas que me relembram que a vida é assim, que nos coloca à prova como se a perguntar se é mesmo isto que queremos. Como se a certificar-se que estamos preparados para enfrentar o que aí vem. E hoje eu sei qual é o meu caminho.

E desde aquela grande provação, agora a completar 19 anos, a que a vida submeteu a minha família, tenho a certeza que cada dia conta e celebrar é extremamente importante. Porque em tempos de balanços, o que fica não é a casa ou o carro novo, são sempre os momentos, as memórias, os laços que conseguimos partilhar ou criar e que são só nossos. O que rimos, o que sentimos, o que berrámos, o que descobrimos ou comemos pela primeira vez juntos ninguém nos pode jamais retirar.

Assim sendo, hoje é dia de festa! E por todas estas razões, isto não é só um blog de viagens. É a marca que quero deixar. É um bocadinho de mim e da minha história. E fico muito feliz que façam parte dela.

isto não é só um blog

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