Ouvi falar tantas vezes do Jardim do Passeio Alegre na Foz do Douro, que quando decidi lá ir pela primeira vez, para o incluir no meu projecto 40 anos, 40 lugares pedi ajuda à Rita. Ela mora no Porto há mais de 10 anos, está super habituada a acompanhar famílias por lá, por isso eu tinha a certeza de que ela me ía conseguir surpreender.
E conseguiu, claro, quando me disse que bem mais giro do que visitar apenas o Jardim do Passeio Alegre era lá chegar de eléctrico. E assim foi. Apanhámos aquele eléctrico antigo, a fazer lembrar outros tempos, na Rua Nova da Alfândega mas logo percebi que apesar de estar super lotado, a idade não perdoa e havia a possibilidade de a viagem ter alguns percalços.
Pelo menos foi com essa sensação que fiquei, quando ao comprar o bilhete (2,50 euros / viagem) o motorista disse de sorriso estampado no rosto, que não vendia de “ida e volta porque nunca se sabe o que pode acontecer”. Mas atenção, ninguém fica sem regressar pois há autocarros que fazem o mesmo percurso (1,85 euros / viagem), a diferença está mesmo no glamour do eléctrico que nos deixou quase em frente ao Jardim do Passeio Alegre.
Sabiam que este meio de transporte que data do fim do século XIX, antes de ser procurado essencialmente por turistas, chegou a ser o único transporte público na cidade, sendo primeiro puxado por bois e depois por cavalos? E que este percurso que nós fizemos agora em cerca de 15 minutos, já chegou a demorar um dia inteiro para ser feito!
Pois, talvez seja por isso mesmo que ainda hoje as pessoas que moram na Foz dizem frequentemente que vão ao Porto, quando estão apenas a ir ao centro da cidade, trata-se afinal só de uma zona diferente da mesma cidade.
Outra curiosidade é que durante o século XX, as mães recomendavam os miúdos que usavam este meio de transporte para ir para a escola que dobrassem os joelhos quando o revisor passava já que até à altura de um metro a viagem era gratuita. Também foi forma de deslocação para peixeiras que levavam o peixe fresco para o centro da cidade, até que os restantes utentes se queixaram do constante e intenso cheiro.
Agora, é um passeio bem giro para fazer em família. Acho que os miúdos gostam de ver o seu interior, pequeno e em madeira, e a forma como se conduz alternadamente, ora de um lado ora na volta troca-se e o que era a traseira passou a ser a parte da frente do eléctrico.
A vista, acredito, consegue deslumbrar todos. A água, as pontes ou os barcos são sempre bastante interessantes de observar mesmo por detrás de um vidro.
Eu até fiquei a saber que do outro lado do Rio Douro há uma região de nome Afurada (com barcos a fazer constantemente a travessia) que é um lugar bem típico de pescadores, onde se pode almoçar (ver o peixe a ser assado na rua) e passar umas horas descontraídas em família.
O Jardim do Passeio Alegre, construído nos finais do século XIX, está então numa zona nobre da cidade do Porto conhecida por Foz. Desde o jardim, atravessando a estrada consegue-se ver o encontro das águas do Rio Douro com o Oceano Atlântico. Esta zona do Passeio Alegre está classificada como Imóvel de Interesse Público.
É um jardim romântico e os dois Obeliscos na entrada foram idealizados pelo mesmo arquitecto da Torre dos Clérigos, Nicolau Nasoni. O nome do jardim – Jardim do Passeio Alegre – como já devem ter reparado, é bem sugestivo e deixa qualquer um bem disposto até antes de começar o passeio!
Existem enormes árvores de folha caduca, muitas palmeiras, um chafariz em granito, um campo de minigolfe, um coreto, muito espaço para piqueniques ou correrias. Um pequeno café, de arquitectura suiça, conhecido precisamente como ‘chalet suiço’ e ponto de encontro entre os intelectuais da Foz.
E até uma estátua de São João, que apesar de não ser o padroeiro da cidade, como muitos pensam – é Nossa Senhora da Vandoma – tem a importância toda que se conhece por estes lados.
Até as casas de banho públicas, construídas em 1910, com os seus azulejos de Arte Nova e loiças inglesas merecem também uma visita!
Seguindo a costa, até à cidade de Matosinhos, depois deste Jardim do Passeio Alegre seguem-se as praias, as esplanadas, as ciclovias sempre cheias de patins, bicicletas e pessoas a caminhar, que espero visitar numa próxima oportunidade nesta cidade do Norte de Portugal.
Eu era quase adolescente quando me lembro de visitar o Porto pela primeira vez com os meus pais e irmãs. Tudo me pareceu bem diferente de Lisboa. Ainda hoje é assim. Nunca sei onde estou, só parece que ando sempre em círculos, quase todas as ruas são estreitas, escuras, tortas e confusas (mas também sei que não sou a única a dizer isto da cidade do Porto!).
A verdade é que com este passeio à Foz conheci uma nova perspectiva da cidade do Porto, contribuindo até para começar a construir mais pontos de referência e assim até a alterar a minha percepção global da cidade.
E já sabem, se quiserem visitar o Porto e ficar a conhecer aqueles lugares, dicas e curiosidades que só os habitantes locais conhecem, contactem a Rita e o seu O Porto Encanta. Ela é brasileira, mas há mais de uma década que se apaixonou pelo Porto e continua a manter aqueles olhos de turista de quem vê tudo como se fosse a primeira vez.
Aliás, com pais e marido português ela reconhece que é aqui a sua casa e fiquem a saber que ela é mulher para conseguir estruturar passeios e roteiros para todos os gostos e de conseguir surpreender todos os visitantes, incluindo os portugueses!
Quem é que já fez este passeio de eléctrico ou visitou o Jardim do Passeio Alegre?
Gostava mesmo de conhecer as vossas histórias com o Porto!
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Jardim do Passeio Alegre
Rua do Passeio Alegre – Foz do Douro, Porto, Portugal
Entrada: gratuita
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Este é o lugar #5 do Projecto 40 anos, 40 lugares
Continuem a acompanhar este projecto!
Estes são os lugares que já visitei desde Janeiro:
#0 – O Baleal é a minha praia – Peniche
#1 – A Gulbenkian em Lisboa está cheia de curiosidades – Lisboa
#2 – O charme e as histórias do Parque das Caldas da Rainha – Caldas da Rainha
#3 – Museu do Oriente, visitar a cultura oriental em Lisboa – Lisboa
#4 – Arquivo em Leiria: livros, cultura e café – Leiria
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